Análise do Acesso à Cultura em Mato Grosso
A realidade do acesso à cultura em Mato Grosso é marcada por desafios significativos, entre os quais se destacam a falta de tempo, os altos custos e a escassez de opções em diversas regiões. Embora haja um claro interesse da população pelas manifestações culturais, os dados apontam que o acesso ainda é desigual entre os municípios, criando um cenário em que a cultura está presente, mas não é disseminada por igual. Esta avaliação é parte de um levantamento realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT).
Conforme a pesquisa, 36,3% dos entrevistados afirmam que a principal barreira para o acesso à cultura é a falta de tempo devido à rotina agitada. Outros 26,9% mencionam os custos elevados como uma limitação, enquanto 21,1% citam a escassez de opções culturais em suas localidades. No Sudoeste do estado, quase metade da população sente a falta de atividades culturais, enquanto na Região Metropolitana, a combinação entre custos e a rotina diária restringe a participação, mesmo em áreas com maior concentração de eventos. O estudo revela a existência de “dois cenários culturais” em Mato Grosso: um que lida com a disputa entre orçamento e tempo, e outro que enfrenta a ausência quase total de programação cultural.
Formas de Acesso à Cultura
Quando analisamos os canais de acesso, observa-se que mais da metade dos mato-grossenses (54,1%) consome cultura de maneira híbrida, mesclando experiências presenciais e digitais. Por outro lado, 23,8% acessam exclusivamente conteúdos online, reflexo das dificuldades de deslocamento e da concentração de equipamentos culturais em poucas cidades. Apenas 14,4% conseguem consumir cultura apenas de forma presencial.
A desigualdade se estende aos espaços utilizados para o consumo cultural. Entre aqueles que frequentam atividades presenciais, 45,5% optam por espaços públicos, como praças e centros culturais. Já 27,2% preferem locais privados, como cinemas e teatros. Essa distribuição apresenta variações regionais: no Nordeste, escolas e universidades são os principais locais de acesso cultural, enquanto na Região Metropolitana predominam os espaços privados, revelando diferenças estruturais na oferta cultural disponível.
Perfil e Motivações do Consumidor Cultural
O perfil do consumidor cultural em Mato Grosso é bastante equilibrado em termos de gênero, com uma predominância nas faixas etárias entre 25 e 44 anos. O Nordeste destaca-se como a região mais ativa em termos de frequência de consumo, com altos índices de participação semanal e diária. Em contrapartida, as regiões Norte e Sudoeste apresentam um consumo mais esporádico, concentrado em atividades mensais ou raras.
As motivações para o consumo cultural variam, sendo o lazer e o entretenimento apontados por 33,1% da população. Em seguida, 27,2% valoriza a cultura local, enquanto 23,4% busca conhecimento e aprendizado. Entre os jovens, o lazer se destaca como a principal motivação, enquanto entre os com mais de 45 anos, há um aumento na valorização da identidade cultural e da produção regional, revelando uma conexão mais simbólica com a cultura.
Investimento e Percepção sobre a Cultura
A desigualdade também se reflete nos gastos com atividades culturais. A maior parte dos entrevistados (39,2%) afirma gastar entre R$ 51 e R$ 100 por mês com cultura, enquanto 27,3% destinam entre R$ 101 e R$ 200. Uma parte considerável da população, especialmente nas classes D e E, limita seus investimentos a valores baixos ou não investe nada, o que reforça as restrições orçamentárias enfrentadas no acesso cultural.
Ainda assim, a percepção sobre a importância da cultura é majoritariamente positiva. Para 62,4% dos entrevistados, a cultura é vista como essencial para o desenvolvimento do estado. No entanto, quase um terço dos participantes considera o acesso à cultura apenas regular, o que indica que o reconhecimento do valor cultural não se traduz automaticamente em condições adequadas para sua fruição.
Perspectivas para o Setor Cultural
O desconhecimento em relação ao setor cultural em Mato Grosso representa uma oportunidade para o crescimento de empreendedores na área. De acordo com o estudo, quase metade da população afirma não conhecer artistas ou iniciativas do mercado cultural local. Nesse cenário, o Sebrae Mato Grosso tem desempenhado um papel estratégico no fortalecimento da economia criativa, promovendo ações voltadas ao acesso ao mercado, capacitação e incentivo à formalização de negócios.
Iniciativas recentes permitiram que artesãos e empreendedores criativos ampliassem sua atuação em outros estados, gerando aumento de receita e maior inserção no mercado. “O trabalho do Sebrae Mato Grosso visa reduzir desigualdades, gerar dignidade e demonstrar que a cultura pode ser um caminho concreto para a geração de renda. Ao ajudar esses empreendedores a acessarem mercados e estruturarem seus produtos, transformamos criatividade em negócios com impacto social”, explica a analista técnica Denize Barros.
Como parte desse esforço, a entidade promoveu, neste ano, a exposição “Lírica, Crítica e Solar: artes visuais em Mato Grosso”, no Museu Nacional da República, em Brasília, apresentando obras de artistas locais, tanto em atividade quanto falecidos. O Sebrae/MT também mantém parcerias no setor audiovisual e ações de apoio a músicos premiados no Prêmio Sebrae Música da Amazônia, ampliando a visibilidade da produção cultural de Mato Grosso no cenário nacional.
