Retórica Bélica e Política Externa Agressiva
No cenário atual, o ‘Relógio do Juízo Final’ se aproxima da meia-noite, refletindo um aumento preocupante na retórica nuclear em 2025. Nesse contexto, a política externa do presidente americano Donald Trump tem se mostrado cada vez mais agressiva, destacando-se ações que reforçam as ambições de potências como Rússia e China. A primeira menção de um ataque contra a Venezuela, atribuído à CIA, exemplifica essa abordagem. O alvo? O Tren de Aragua. Um ano após essa ameaça inicial, o número de nações sob o olhar atento de Trump cresceu, com o presidente impondo sua vontade global por meio de guerras tarifárias e ameaças diretas de intervenção militar.
Entre os países na mira, encontramos nações como Groenlândia, Nigéria, México e Colômbia, que se tornaram parte de um cenário de tensão diplomática. Especialistas consultados pelo GLOBO alertam que as ameaças de Trump não apenas refletem seu estilo pessoal de negociação, mas também rompem com os princípios tradicionais da política externa americana, que, até então, priorizava a cooperação e o respeito ao direito internacional. Essa mudança pode ser vista pelos adversários como um sinal verde para expandirem suas próprias ambições territoriais.
As Consequências da Nova Estratégia
A retórica coercitiva de Trump proporciona um ambiente mais confortável para líderes como o presidente russo Vladimir Putin e o governo chinês em relação a Taiwan. Flávia Loss, professora de Relações Internacionais na FESPSP, ressalta que essa postura favorece as ações da Rússia na Ucrânia e a visão expansionista da China. O lançamento da nova Estratégia de Segurança Nacional pela Casa Branca, em novembro, carrega conceitos como ‘paz pela força’ e ‘realismo flexível’, que fundamentam o uso da força militar diante de qualquer obstáculo aos interesses americanos.
O professor Gunther Rudzit, especialista em Relações Internacionais, argumenta que a era das regras do direito internacional chegou ao fim, citando a nova lógica do ‘mais forte prevalece’. A retórica de Trump, no entanto, não se limita apenas a palavras; suas ameaças já resultaram em ações concretas, como a apreensão de petroleiros venezuelanos.
Impactos nas Relações Internacionais
A tensão crescente entre os EUA e a Dinamarca, provocada pela retórica sobre a Groenlândia, é outra demonstração da nova dinâmica de poder. Mesmo sendo um aliado europeu, o país se viu no centro de uma crise diplomática. A visão de Trump sobre a imensa ilha, considerada crucial para a defesa americana, leva a especulações que vão desde propostas de compra a ameaças de intervenção militar. Para Loss, essa abordagem reflete uma visão mais agressiva de Trump sobre o sistema internacional, onde a intimidação se torna uma ferramenta de negociação.
Esse estilo impositivo se aplica, principalmente, a países com menor poder relativo, como as nações latino-americanas, que estão sob o chamado “Corolário Trump”. O Panamá, por exemplo, fez concessões significativas, enquanto no México e na Colômbia, mesmo diante de resistência, adaptações foram necessárias ao novo cenário imposto pelos EUA.
O Efeito da Coerção
De acordo com Loss, a narrativa de Trump apresenta uma diferença clara de tratamento entre potências e países menores. O diálogo com nações como a Rússia ocorre com cautela, enquanto a coerção predomina nas relações com países periféricos. Essa abordagem gera o fenômeno do ‘efeito manada’, em que nações menores se alinham ao poder dominante em busca de segurança. O Paraguai, por exemplo, firmou um acordo para permitir que tropas americanas operem em seu território, em resposta ao combate ao narcotráfico — uma tendência que pode se expandir por toda a América Latina.
A Retórica como Ferramenta Política
Além de suas implicações globais, a postura agressiva de Trump também busca ganhos políticos internos. Suas ameaças a países como Nigéria e África do Sul, por casos de violência contra cristãos, servem como uma demonstração de força, ressoando com seu eleitorado conservador. Trump pode não cumprir todas as suas ameaças, mas utiliza esses discursos para se posicionar como um líder forte, tanto no cenário internacional quanto entre seu público doméstico. Para Loss, essa estratégia é uma forma de consolidar poder e influência na política interna e externa, caracterizando uma nova era nas relações internacionais sob o governo de Trump.
