Reflexões sobre empoderamento feminino através do jiu-jitsu
Durante uma entrevista reveladora, Kyra Gracie discute como sua trajetória no jiu-jitsu a levou a compreender a importância de seu papel como mulher e atleta. ‘No início, meu foco estava em competir e provar meu valor em um espaço que não foi pensado para mulheres. Contudo, com o tempo, percebi que cada vitória no pódio inspirava outras mulheres a se juntarem a esse universo’, relata ao GLOBO.
Kyra destaca que o impacto do jiu-jitsu na vida de muitas mulheres foi transformador. ‘Ouvir relatos de mulheres que mudaram sua postura, autoestima e decisões de vida através do jiu-jitsu me fez perceber que meu papel vai além das medalhas’, afirma. Hoje, a lutadora reflete: ‘Embora vencer campeonatos tenha sido significativo, minha verdadeira vitória é usar o jiu-jitsu como uma ferramenta para promover autoconfiança em mulheres que querem viver da maneira que desejam’.
A mudança de perspectiva também trouxe uma nova compreensão sobre a força. ‘Quando comecei, força era sinônimo de performance e resistência física. Agora, força significa longevidade, consciência corporal e equilíbrio emocional’, explica Kyra. Para ela, o corpo deixou de ser um instrumento de alta exigência e se tornou um espaço de cuidado e autocuidado: ‘Continuo forte, mas de uma maneira mais inteligente, equilibrada e psicologicamente robusta’.
Educação através do jiu-jitsu e a formação de crianças conscientes
Com essa nova visão, Kyra desenvolveu um projeto de jiu-jitsu educacional voltado para crianças, com o intuito de ensinar não apenas técnicas, mas valores essenciais como autoconfiança, respeito e responsabilidade. ‘É fundamental que as meninas aprendam a se posicionar e a entender que não precisam pedir desculpas por existir. Elas devem ocupar qualquer espaço que desejarem’, enfatiza a atleta. Para Kyra, o ensino é apenas o meio para um objetivo maior: formar indivíduos mais seguros e conscientes.
Nas redes sociais, Kyra, junto com o ator Malvino Salvador, discute abertamente a importância da defesa pessoal feminina, sem romantizar a violência. ‘A informação é a chave para a autonomia feminina. Falar sobre violência não é para assustar, mas para preparar’, relata. Ela enfatiza que conhecer os sinais e contextos de situações de risco ajuda a mulher a se posicionar de maneira mais eficaz. ‘A mensagem que queremos passar não é que o mundo é perigoso, mas que cada uma pode se posicionar melhor nele’, esclarece Kyra. A autoconfiança, segundo ela, nasce da conscientização.
A maternidade como fator transformador
A maternidade tem um papel crucial na vida de Kyra. ‘Sempre sonhei em ser mãe, e essa experiência ampliou minha sensibilidade e responsabilidade’, conta. A atleta revela que a maternidade mudou completamente suas prioridades e visão de mundo. ‘Antes, minhas decisões eram centradas em mim como atleta, mas com a maternidade, passei a pensar em um olhar coletivo’, reflete.
Uma questão que frequentemente a guia em suas decisões é: ‘Que tipo de mundo estou ajudando a construir para meus filhos?’. Essa preocupação se reflete em seu livro ‘Um Golpe Contra o Bullying’, no qual Kyra destaca que o bullying começa muito antes da violência física, e que ensinar crianças a reconhecer emoções e a se posicionar é fundamental para prevenir traumas no futuro. ‘Falar sobre sentimentos precocemente é um ato de cuidado’, afirma. Para ela, a educação emocional é um dos pilares de seu trabalho, pois acredita que formar crianças autoconfiantes é essencial.
Desafiando estereótipos e promovendo diversidade
Kyra também ressalta que um dos maiores desafios é romper com os rótulos que frequentemente cerceiam o comportamento feminino. ‘Precisamos parar de rotular as meninas. Elas não precisam escolher entre ser fortes ou sensíveis; podem ser ambas. Coragem e delicadeza podem coexistir’, defende. Essa mudança, segundo Kyra, deve ser promovida pela família, pela escola e pela sociedade como um todo, validando diferentes expressões do feminino.
