Uma Visão Singular sobre o Colecionismo
Regina Pinho de Almeida, em uma conversa por vídeo, compartilha sua perspectiva sobre o mundo da arte. Segundo ela, a diversidade nos perfis artísticos é notável. ‘Há quem retrate a política ou questões sociais, enquanto outros se dedicam mais às técnicas e à essência da arte’, reflete. No colecionismo, destaca a liberdade de cada um seguir sua própria visão: ‘Nunca levei muito a sério, buscava algo mais único, com um toque de humor’, revela Regina.
Esse jeito despreocupado pode ser o que torna sua coleção tão cativante. Com obras de renomados como Marcel Duchamp, Cildo Meireles e Edith Derdyk, seu acervo se desdobra em três exposições na Casa de Cultura do Parque, que voltará a receber visitantes em 7 de janeiro, após o recesso de fim de ano. Este espaço foi fundado pela própria Regina em 2019, localizado no Alto de Pinheiros.
Exposições com Temáticas Diversificadas
As exposições, com curadoria de Claudio Cretti e Tetê Lian, exploram três importantes eixos temáticos: ‘Som e fúria’, que apresenta obras mecanizadas que emitem sons; ‘Balada para um espectro’, que abrange o universo dos livros; e ‘Corpo-a-corpo’, que discute a presença da materialidade humana na arte, levando em conta contextos socioculturais.
Para Lian, a coleção de Regina se destaca pela diversidade de obras. ‘Tradicionalmente, espera-se que uma coleção tenha muitas pinturas. No entanto, a dela tem uma variedade de trabalhos que muitos colecionadores não se atrevem a adquirir, tanto pela complexidade de manutenção quanto pelo espaço que ocupam’, observa.
Valor e Despretensão nas Aquisições
Cretti, por sua vez, complementa: ‘Regina investe em artistas jovens que ainda não estão consolidados no sistema de arte. Se ela gosta e tem a oportunidade, compra sem especular sobre o futuro valor da obra. Sua coleção é uma expressão genuína de gosto pessoal’. O próprio espaço em que as obras estão expostas remete a uma galeria de arte.
A Influência Familiar e O Início da Coleção
O apreço pela arte é uma herança familiar. Seu avô, o poeta Tácito de Almeida, foi um dos participantes da renomada Semana de Arte Moderna de 1922, enquanto seu pai, Flávio Pinho de Almeida, atuou como diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo na década de 1970. Regina também trabalhou em galerias e fez parte do conselho de instituições como o Masp.
A virada decisiva para sua coleção ocorreu em 2005, quando recebeu parte do valor da venda de uma fazenda no Paraná. A partir daí, mergulhou de cabeça no universo das artes e começou a negociar com artistas próximos a ela, além de trabalhar em uma galeria. No entanto, ela sentia que ainda não estava exatamente onde desejava estar.
Superando Preconceitos
A criação da Casa de Cultura do Parque, juntamente com o Instituto de Cultura Contemporânea, surgiu como uma forma de ampliar o acesso à sua coleção. Regina comenta: ‘Não queria apenas me casar e viver como mulher de fazendeiro, tampouco criar mais uma galeria, pois sempre preferi estar entre o público’.
Ela ainda menciona as dificuldades enfrentadas: ‘Os curadores que convidei tinham uma visão limitada sobre meu projeto e havia um certo preconceito de alguns acadêmicos da USP, que diziam que eu representava apenas a elite e não se interessavam em se envolver. Muitos não apareciam nem na SP-Arte, porque não queriam misturar arte e comércio’. Essa resistência dificultou a busca por colaboradores que a apoiassem na visão de seu projeto.
Frutos de um Trabalho Coletivo
Com a Casa já consolidada, Regina observa que seu projeto tem atraído atenção e que ela colhe os frutos de seu trabalho. ‘Sempre estive cercada por pessoas que acreditaram na iniciativa’, ressalta. Atualmente, a colecionadora sente que está desacelerando em relação a sua intensa agenda social do passado, que a levou a promover suas ações artísticas.
“À medida que envelheço, tenho passado mais tempo em casa assistindo Netflix, mantendo um convívio natural com os artistas, mas de forma menos social. Hoje, a frequência é menor”, conta Regina, embora afirme que ainda se dedica a apoiar novos talentos.
