A Ascensão do Sorgo na Agricultura Brasileira
A produção de sorgo no Brasil teve um aumento impressionante de mais de 400% nos últimos dez anos, conforme os dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa evolução é, em parte, atribuída à exploração de novas fronteiras agrícolas, onde o sorgo se destacou na segunda safra, apresentando boa adaptação às janelas de plantio e uma maior resistência às condições de estresse hídrico.
No Maranhão e na região Oeste da Bahia, o sorgo tem se consolidado como uma cultura não apenas alternativa, mas como um elemento fixo na safrinha, impactando diretamente a rentabilidade e a sustentabilidade das lavouras. A Embrapa destaca que a expansão da área cultivada, aliada ao aumento da produtividade, é resultado da crescente demanda industrial, especialmente para a produção de etanol, e da urgência em diversificar as culturas diante de um cenário climático instável.
“O sorgo está sendo impulsionado por suas características complementares às culturas já estabelecidas em nosso país, principalmente pela sua resiliência e pela demanda crescente por culturas estratégicas, em um contexto de mudanças climáticas e a necessidade de diversificação da matriz energética”, explica Frederico Botelho, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo.
Oportunidades no Mercado de Etanol
Segundo Botelho, a consolidação do etanol de cereais elevou o sorgo de uma posição secundária para uma matéria-prima de alta relevância. “As usinas localizadas em estados como Mato Grosso do Sul, Goiás e Maranhão estão ativamente fomentando o cultivo e a compra do sorgo para aumentar a produtividade na indústria”, ressalta.
No Oeste da Bahia, onde há 31 municípios, o sorgo já se firmou como uma parte crucial da safrinha. Para a safra 2025/26, a expectativa é que a área cultivada chegue a 200 mil hectares, conforme a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
O produtor e empresário Celito Breda, ligado à empresa de assessoria e pesquisa agronômica Círculo Verde, destaca que o crescimento do sorgo atende a várias demandas do sistema produtivo. “Há uma demanda significativa pelo grão de sorgo, pela incorporação de carbono no solo e pela formação de palhada na segunda safra. Tudo isso nos leva a crer que precisamos aumentar a presença dessa gramínea na matriz produtiva”, afirma.
Breda ainda acredita que a produtividade da cultura está em ascensão. “Atualmente, temos uma média de 85 sacas por hectare na segunda safra, pois investimos e cultivamos em áreas muito férteis”, explica. Ele projeta que, em cinco anos, as fazendas poderão alcançar uma produção de até 140 sacas de sorgo por hectare. Para pivôs que forem plantados em fevereiro, a expectativa é ainda mais otimista, podendo chegar a 200 sacas por hectare.
Diversificação no Maranhão
No Sul do Maranhão, a cultura do sorgo também está avançando. Para a safra 2025/26, a área plantada deve atingir 54,1 mil hectares, com uma produtividade estimada em 2.465 quilos por hectare, de acordo com a Conab.
Produtores locais ressaltam a diversificação como um dos principais benefícios. “Com o sorgo, podemos diversificar as culturas, aproveitar melhor a janela de plantio e aumentar a área cultivada. Quanto mais áreas cultivadas, maior a receita”, afirma Jean Henrique Martins, produtor de grãos na região.
Haroldo Uemura, um empreendedor rural que cultiva sorgo em várias regiões, incluindo Oeste da Bahia, Piauí e Maranhão, salienta a segurança comercial que o sorgo oferece. “A cultura apresenta uma boa margem de rentabilidade. Além de ser uma opção para a cobertura do solo, atualmente temos mais certeza sobre a liquidez, especialmente com a destinação dos grãos para a produção de etanol”, aponta.
A Importância do Manejo Adequado
Com o crescimento do cultivo, a atenção ao manejo se torna ainda mais crítica. Especialistas alertam que o controle de plantas daninhas, pragas e a fertilidade do solo são fatores fundamentais para o sucesso da produção de sorgo.
Outra preocupação importante é o efeito residual de herbicidas aplicados em culturas anteriores, especialmente a soja. “É essencial conhecer os herbicidas que podem interferir no desenvolvimento do sorgo quando semeado em sucessão”, alerta.
