Apoio a Proprietários Rurais é Fundamental para Reverter a Degradação dos Biomas Brasileiros
Um estudo inovador, publicado na renomada revista Nature Communications, traz evidências significativas sobre a eficácia de uma estratégia brasileira voltada para a restauração florestal. A pesquisa, conduzida por uma coalizão de organizações brasileiras, aponta que a atuação em redes descentralizadas, aliada ao suporte técnico e financeiro a proprietários rurais na Mata Atlântica, resultou em um aumento na recuperação da cobertura florestal de 10 a 20 pontos percentuais nas áreas atendidas, quando comparadas a regiões similares que não receberam esse apoio.
A investigação abrangeu ações promovidas pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, com foco em seis estados — Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais — entre 2000 e 2018. Os pesquisadores compararam a recuperação em áreas que se beneficiaram do programa a partir de 2010 com um grupo controle, estabelecendo, assim, o impacto direto da intervenção. Os dados indicam que o apoio do Pacto resultou em uma média de 9,9 pontos percentuais na conversão de áreas não florestadas, sendo que em regiões totalmente cobertas pelo programa, a recuperação florestal atingiu cerca de 20 pontos percentuais.
Os autores do estudo atribuem o sucesso da iniciativa à governança descentralizada e à atuação efetiva nas comunidades locais, através de Unidades Regionais que oferecem suporte técnico, cultivam mudas e promovem o fortalecimento de redes. A análise também confirmou que a restauração em larga escala em propriedades privadas requer um cenário institucional e econômico favorável. A decisão de restaurar, segundo os pesquisadores, está atrelada a questões financeiras para os donos de terras. Os impactos foram mais significativos em áreas mais distantes, onde os custos de oportunidade são menores, como em atividades agrícolas.
A pesquisa revelou que os maiores resultados foram observados nos estados que apresentam uma fiscalização ambiental mais rigorosa, como Bahia e Paraná. Nesses locais, a conformidade com o Código Florestal, que exige a destinação de 20% da área como Reserva Legal, desempenha um papel importante ao diminuir o risco de penalidades e facilitar o acesso a créditos agrícolas.
No total, a intervenção do Pacto resultou na restauração de aproximadamente 4.600 hectares de floresta entre 2010 e 2018, apenas na amostra analisada. Esse número representa cerca de 21% da área total restaurável de 21.800 hectares do estudo, evidenciando a viabilidade de uma restauração em grande escala. Os autores consideram este dado como conservador, uma vez que a amostra representa apenas uma fração das propriedades que receberam apoio.
“O Pacto se torna relevante em áreas onde os desafios são mais agudos, incluindo altos custos, lacunas técnicas e baixa rentabilidade a curto prazo. A colaboração entre diferentes setores e regiões permite ultrapassar essas barreiras com soluções adaptadas, de acordo com cada contexto local”, afirma Ludmila Pugliese, diretora de restauração de paisagens e florestas da Conservação Internacional (CI-Brasil), que coordenou o Pacto por oito anos e é coautora do estudo.
A pesquisa também conta com a contribuição de Alex Mendes, Secretário Executivo do Pacto até 2025. Mendes destaca que os resultados consistentes na restauração florestal dependem da construção colaborativa, do fortalecimento de lideranças locais e da conexão entre ciência, políticas públicas e ações no campo.
A CI-Brasil faz parte do Conselho de Coordenação do Pacto, uma coalizão multissetorial que envolve centenas de instituições comprometidas com a restauração dos ecossistemas da Mata Atlântica, aplicando as recomendações da coalizão em seus projetos no país. A organização atua em diversos biomas, focando em soluções baseadas na natureza para enfrentar a crise climática e de biodiversidade. Para os pesquisadores, o modelo do Pacto representa um caminho viável e eficaz para expandir a restauração florestal no Brasil e em outros países tropicais, especialmente no contexto da Década da Restauração da ONU.
O estudo, assinado por Roberto Toto e Jennifer Alix-García, do Departamento de Economia Aplicada da Universidade Estadual do Oregon; Katharine R. E. Sims, dos Departamentos de Economia e Estudos Ambientais do Amherst College; Carlos Muñoz Brenes, do Centro Moore de Conservação Internacional; Alex Fernando Mendes, do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica; Bruno Coutinho e Ludmila Pugliese, da CI-Brasil, revela a importância das ações coletivas e do suporte técnico na recuperação de um dos biomas mais ameaçados do mundo.
