Nomeações Polêmicas na Cedae
No cenário político do Rio de Janeiro, as recentes nomeações na Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) provocam um turbilhão de questionamentos. José Ricardo Ferreira de Brito e Philipe Campello, ambos ex-integrantes da Secretaria de Meio Ambiente durante a gestão do governador Cláudio Castro, foram alçados a diretores da companhia em um contexto sensível, marcado por votações críticas no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Brito, que atuou como subsecretário e chegou a assumir a titularidade da pasta em um intervalo de abril a dezembro de 2022, e Campello, ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), foram nomeados em meio a um clima de tensão política. A antecipação das nomeações foi revelada pelo jornal Correio da Manhã, que destacou a relação próxima dos dois com o governo estadual. Documentos da Cedae acessados pelo GLOBO indicam que a nomeação de Brito ocorreu após um ofício, datado de 6 de outubro, enviado diretamente por Castro ao conselho de administração da Cedae, solicitando a avaliação da indicação para a função de Diretor de Saneamento e Grande Operação.
Logo em seguida, em novembro, Campello foi escolhido para liderar a recém-criada Diretoria de Sustentabilidade, uma mudança que demandou alterações estatutárias na Cedae. A decisão de acelerar a criação dessa diretoria mobilizou aliados de Castro, que buscaram viabilizar a indicação rapidamente. Assim, Campello recebeu a aprovação do colegiado no dia 26 do mesmo mês, em uma reunião cuja ata não menciona a autoria do ofício de nomeação.
Divergências no Tribunal de Contas do Estado
O contexto dessas nomeações é repleto de nuances e divergências. Durante esse período, Pampolha, então secretário, manifestou uma opinião contrária em um julgamento no TCE, onde buscava permitir que o governo firmasse um controvertido acordo de indenização que desagradava a Cedae. Em 3 de outubro, a diretoria da empresa anunciou que acataria uma determinação governamental para indenizar a concessionária Águas do Rio, relacionada a supostos erros identificados no edital de concessão. Apesar de acatar a determinação, a Cedae enfatizou que não se responsabilizava pelos danos relatados. A recuperação da indenização é estimada em cerca de R$ 900 milhões, que seria compensada por descontos nas tarifas de água ao longo do período de concessão.
Essa situação complexa gerou reações no TCE, onde os deputados estaduais Luiz Paulo (PSD) e Jari (PSB) apresentaram uma denúncia, levando o conselheiro José Gomes Graciosa a suspender o acordo em meados de outubro. Graciosa expressou preocupações sobre a moralidade e a transparência do acordo, questionando a falta de documentação técnica que justificasse o valor acordado de R$ 900 milhões.
Retomando o caso em 12 de novembro, Pampolha abriu divergência e votou a favor do acordo, argumentando que a atuação do TCE deveria ser pautada pela autocontenção e não interferir nas negociações entre as partes envolvidas na concessão. O voto de Pampolha prevaleceu por uma margem apertada de quatro a três votos, e no mesmo dia, a Cedae se reuniu para empossar Campello na nova diretoria.
Consequências Políticas
O desdobrar desses eventos teve repercussões diretas na carreira política dos envolvidos. Brito e Campello, que deixaram seus cargos na Secretaria de Meio Ambiente no início de 2024, enfrentaram uma reconfiguração após Pampolha ser destituído da pasta. A relação entre Pampolha e Castro se deteriorou, especialmente após o ex-secretário se filiar ao MDB e articular uma possível candidatura ao governo em 2026, o que era visto como uma ameaça aos planos do atual governador e de seus aliados.
Atualmente, Brito ocupa um cargo na Secretaria de Esporte e Lazer, enquanto Campello foi nomeado para a Secretaria de Governo em junho de 2025, em um acordo que envolveu Pampolha, Castro e Rodrigo Bacellar, então presidente da Assembleia Legislativa. Esse acordo já preconizava a distribuição de cargos na Cedae, evidenciando as articulações políticas nos bastidores do governo.
Em busca de esclarecimentos, o ex-secretário Pampolha não retornou os contatos. Em nota, tanto o governo do Rio quanto a Cedae afirmaram que as escolhas foram adequadamente avaliadas e aprovadas pelo Conselho de Administração da companhia, destacando a experiência dos indicados em áreas estratégicas.
