Montadora Chinesa BYD Faz História na Bahia
A primeira unidade fabril da BYD (Build Your Dreams) no Brasil foi oficialmente inaugurada nesta quinta-feira (9) em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Com um investimento de R$ 5,5 bilhões, a nova fábrica representa um marco significativo para a indústria automobilística nacional, especialmente no setor de veículos elétricos e híbridos.
A cerimônia de abertura, realizada às 11h30, contou com a presença de importantes autoridades, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Também estavam presentes o presidente da BYD, Wang Chuanfu, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
Situada no Polo Petroquímico de Camaçari, a nova fábrica foi construída em uma área que anteriormente abrigava as instalações da montadora Ford, que fechou as portas no Brasil em 2021. O espaço foi adquirido pelo governo estadual em 2023, preparando o terreno para o surgimento desta nova iniciativa.
As obras tiveram início em março de 2024, embora a pedra fundamental tenha sido lançada meses antes, em outubro de 2023. Com uma área total de 4,6 milhões de metros quadrados, equivalendo a aproximadamente 645 campos de futebol, a unidade fabril não apenas promete dinamizar a economia local, mas também gerar milhares de empregos diretos e indiretos. A previsão é que a fábrica contrate até 20 mil trabalhadores, sendo que a prioridade será para a mão de obra local.
Produção Sustentável e Tecnologia Avançada
O polo industrial da BYD em Camaçari contará com três unidades focadas na produção de carros elétricos e híbridos, caminhões e chassis para ônibus, além do processamento de insumos como lítio e ferro fosfato para as baterias. Para dar início à produção, a montadora escolheu o popular BYD Dolphin Mini, que atualmente é o modelo elétrico mais vendido no Brasil, com mais de 34 mil unidades comercializadas. O primeiro veículo 100% brasileiro foi apresentado em uma cerimônia realizada no complexo industrial em julho deste ano.
Com uma capacidade inicial de produção de 150 mil veículos por ano, a planta da BYD possui planos de expansão que podem dobrar essa capacidade na segunda fase do projeto. A unidade começará com operações no sistema SKD (Semi Knocked-Down) e, gradualmente, evoluirá para uma produção totalmente nacional, abrangendo estampagem, soldagem e pintura.
Um dos projetos em andamento é o desenvolvimento de um motor híbrido flex, o 1.5 DM-i, fruto de uma colaboração entre cientistas chineses e brasileiros, que permitirá que o motor opere com gasolina e etanol, combinando tecnologias elétricas de última geração.
Incentivos e Políticas Fiscais
Além da criação de empregos, a BYD está comprometida com a formação e capacitação de trabalhadores, com foco especial na população baiana. Os profissionais treinados terão a oportunidade de atuar nas fábricas da montadora, que também anunciou a preferência por fornecedores locais para suas operações.
Para incentivar a instalação e operação da nova fábrica, o governo da Bahia concordou em conceder incentivos fiscais até 31 de dezembro de 2032. Em 2023, o governador Jerônimo Rodrigues sancionou uma lei que isenta o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para carros elétricos que custam até R$ 300 mil. Para veículos com valor superior, a taxa será limitada a 2,5%. Essa isenção se aplica a todos os automóveis elétricos, não apenas aos da BYD, representando um importante estímulo para a indústria de veículos sustentáveis.
Desafios e Questões Trabalhistas
Entretanto, a inauguração da nova fábrica também é marcada por controvérsias. Relatos surgiram sobre a rescisão de mais de 160 trabalhadores chineses que foram resgatados de condições de trabalho análogas à escravidão durante a construção da unidade. O Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) divulgou detalhes sobre as irregularidades encontradas, incluindo alojamentos em condições precárias e falta de higiene.
A BYD informou que, após receber notificações do Ministério do Trabalho e Emprego, decidiu rescindir o contrato com a construtora terceirizada responsável pelas obras. As condições de trabalho dos funcionários eram alarmantes, com relatos de jornadas exaustivas e falta de estrutura adequada.
Assim, enquanto a BYD se estabelece como uma nova força na indústria automotiva brasileira, a companhia também enfrenta desafios críticos em relação ao tratamento de sua força de trabalho, permitindo que a discussão sobre responsabilidade social e laboral permaneça em evidência no setor.