Desafios da Economia Militarizada
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem se dedicado intensamente à militarização da economia do país, desconsiderando o impacto das sanções internacionais e uma inflação persistentemente elevada. Isso tem resultado em um padrão de vida em queda e em desequilíbrios estruturais que se tornam cada vez mais evidentes. A estratégia do Kremlin foca no rearmamento contínuo das forças armadas e na revitalização dos arsenais, o que demanda um aumento significativo na produção de armamentos pelos próximos anos.
Segundo a especialista Aleksandra Prokopenko, do Centro Carnegie de Berlim para a Rússia e a Eurásia, mesmo que a Rússia quisesse retornar a um modelo econômico menos bélico, essa transição é improvável a curto ou médio prazo. A análise publicada no site Meduza aponta para a emergência de uma “economia de duas velocidades” no país, onde o setor voltado para a guerra cresce continuamente, recebendo influxos constantes de recursos, matérias-primas e tecnologia, enquanto o setor privado e as pequenas e médias empresas enfrentam sérias limitações devido às sanções, aumento de impostos e acesso restrito ao capital.
Redistribuição de Recursos e Desequilíbrios Estruturais
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Esse cenário cria uma dinâmica de “aspirador de pó econômico”, na qual os recursos são desviados dos setores menos prioritários para aqueles considerados estratégicos, permitindo ao governo direcionar investimentos para áreas-chave. Esse fenômeno é claramente evidenciado nas estatísticas de produção de produtos metálicos, que incluem armas e munições, cuja produção cresceu a taxas de dois dígitos desde o início do conflito, enquanto bens não relacionados à militarização vêm enfrentando uma queda constante.
A intensa militarização e o protecionismo do Kremlin têm sido os principais impulsionadores da demanda na economia. A demanda dos consumidores é limitada pela inflação, enquanto os investimentos privados são ofuscados pelos gastos governamentais. O modelo econômico atual parece depender das receitas militares, que desempenham um papel similar ao que as receitas do petróleo e gás tiveram na década de 2000. A principal diferença é que, naquele período, os excessos de recursos eram injetados na economia, promovendo uma distribuição mais ampla através do orçamento, o que gerava uma demanda por bens de consumo e investimentos.
Impactos no Comércio Exterior e na Indústria
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Atualmente, o governo utiliza essas receitas bem reduzidas para financiar a guerra, direcionando recursos para a produção de tanques, drones e munições necessários na Ucrânia, além de cobrir indenizações e pensões para militares. Embora o comércio exterior ainda tenha um saldo positivo, a Rússia vende petróleo e gás a preços significativamente mais baixos, alterando a geografia de suas exportações em função do embargo ocidental, que tem levado o país a buscar novos mercados na Ásia e no Sul Global, onde os novos compradores exercem uma forte alavancagem nas negociações.
As sanções também restringem as importações, elevando os custos para as empresas e limitando a inovação tecnológica na produção. Embora formalmente o saldo da balança comercial pareça estável, essa estabilidade é sustentada por um rígido controle administrativo e não reflete a flexibilidade econômica necessária para um crescimento sustentável.
Desafios Futuros e Possibilidades de Redução de Gastos
A indústria de defesa na Rússia consome cerca de 8% do PIB. Reduzir os gastos militares sem provocar um colapso econômico requereria a eliminação de certas condições. As ameaças externas precisariam ser minimizadas, com garantias de segurança que atendessem aos interesses de Putin. Isso implicaria uma desmobilização em massa de soldados contratados, a necessidade de requalificação e a inserção desses indivíduos em economias civis nas regiões.
Além disso, seria imprescindível um relaxamento, pelo menos parcial, das sanções para garantir o acesso a tecnologia e componentes essenciais, assim como uma reformulação nas compras de defesa, adotando rigorosos indicadores de desempenho. Para alcançar um “complexo militar-industrial popular”, seria necessário desenvolver um ecossistema de pequenas e médias empresas que pudesse reduzir substancialmente os custos de produção por meio de práticas de modularidade e produção em massa.
Como salienta Prokopenko, Putin tem sido frequentemente visto como um político “sortudo”, mas a combinação de fatores necessária para uma transição econômica efetiva é complexa e não pode ser atribuída apenas à sorte. Assim, o futuro da economia russa continua envolto em incertezas.